Egomet

May 26, 2005

Lado a lado...escuro e luar

Palavras...leva-as o vento...são simultaneamente a minha salvação e a minha perdição...pecado e virtude. Pecado o facto de não as pronunciar oralmente, virtude por as escrever....sabendo que me preenche esta atitude...que sem ela me sentiria ainda mais incompleta.
O vento já não passa aqui...sinto falta do vento para levar todas as minhas palavras. O vento...o tempo..tantas vezes desordenados..fogem para locais longe da minha vista, longe do meu coração, longe da minha mente, longe do meu ser. Condensaria eu o tempo e o vento num único momento final interminável. Senti-los-ia de forma única, peculiar, trivial...a trivialidade dever-se-ia ao facto de ser inequivocamente um desejo realizado...concebido de forma única e jamais por mim experenciada..... incoerentemente reproduzível.
O meu vento, o meu momento, o meu tempo...nada disto é verosímil..aquilo que concebo como meu não o é. Consiste apenas numa partícula, numa metonímia de tudo aquilo que me rodeia, que me absorve, que eu absorvo, que me respira, que eu respiro, que eu transpareço, que me transparece.
Surpreendentemente não desejo que o vento leve as minhas palavras, mas sim que as torne inesquecíveis e dignas de uma nostalgia insustentável por mim vivenciada....por isso vou lutar enquanto forças tiver...até porque são estas mesmas palavras que me dão força para por elas pugnar. Simplesmente palavras...mas no fundo são para mim dotadas de uma essência própria e não permutável....são de forma estranha e inexplicável aquilo que sinto...aquilo que me vai na alma. Ainda que não possua o dom da escrita as futilidades que escrevo fazem-me sentir mais leve...por vezes quase uma insustentável leveza....e talvez por isso deseje incessantemente ter tempo para as escrever.
Se num momento dentro de mim sinto que apenas existe um abismo...a escrita transforma-o numa praia ao fim do dia....em que a luz natural esverdeará ainda mais os meus olhos e permitir-me-á ver tudo mais claro...mais límpido...mais cristalino...abolindo o que de mais gelado e escuro observo dentro de mim...deixando por isso de ser um anjo perdido...passando a ser um anjo que se encontrou a ele próprio...que encontrou o caminho que por tanto procurava....como uma demanda incompletamente cumprida.

Egomet

7 Comments:

  • És a minha caixinha de surpresas, és aquele mistério que gosto sempre de desvendar. A tua aparente fraqueza, não é mais do que uma ilusão. És de tal forma forte que nem tu mesma o sentes como deverias sentir. Finalmente foi-me oferecida a oportunidade de ler o que escreves. Há tanto tempo a pedir-te que me deixasses ler as tuas palavras, a tua «salvação e (...) perdição», que um dia cedeste. Não concordo quando dizes que as palavras são um dos teus pecados. Quando queres sabes como tornar todo esse pecado em virtude...não sejas preguiçosa e mostra que possuis a virtude das palavras igualmente na linguagem oral!

    By Anonymous Anonymous, at Thursday, May 26, 2005 2:49:00 PM  

  • Trova do Vento que Passa

    Pergunto ao vento que passa
    notícias do meu país
    e o vento cala a desgraça
    o vento nada me diz.

    Mas há sempre uma candeia
    dentro da própria desgraça
    há sempre alguém que semeia
    canções no vento que passa.

    Mesmo na noite mais triste
    em tempo de servidão
    há sempre alguém que resiste
    há sempre alguém que diz não.

    By Blogger me, at Thursday, May 26, 2005 10:04:00 PM  

  • Mega Gafe...esqueci-me das referências...«Trova do Vento que Passa», poema de Manuel Alegre celebrizado pela voz de Adrian Correia de Oliveira. LINDO!!! DIVINO!!!

    By Blogger me, at Thursday, May 26, 2005 10:06:00 PM  

  • Acho sinceramente a tua escrita em Português muito menos forçada do que a em Inglês. Parece mais tua, mais honesta. Pode ser só impressão minha, mas é o que sinto ao ler (não tenho dificuldade nenhuma em ler Inglês).

    Laura

    By Anonymous Anonymous, at Friday, May 27, 2005 1:03:00 PM  

  • Obrigada pela sinceridade. De facto, não és a primeira pessoa a dizer-mo, ainda que por palavras diferentes. Muito honestamente, a língua em que escrevo depende de algo que não sei definir concretamente. Na maioria das vezes escrevo em Inglês, e faço-o há anos. Escassas são as vezes em que me apetece escrever em Português, mas sinto obviamente que algo muda, a sonoridade, o ritmo, a expressão, etc.

    By Blogger Egomet, at Friday, May 27, 2005 5:26:00 PM  

  • Concordo a 100% que a escrita em português te flui muito mehor, já to tinha dito uma série de vezes...e também não tenho a minima dificuldade em ler inglês.Acontece que, por mais que dominemos a língua inglesa a expressão em português é muito mais fiável na transmssão de pensamentos e, principalmente, de sentimentos. Espero quer continues a escrever em português...

    By Blogger me, at Friday, May 27, 2005 7:37:00 PM  

  • Para V.R.:

    A persistência das tuas palavras tem tido como consequência o meu esforço para escrever em Português...não sei por quanto tempo será...depende, como já disse, da minha vontade. Confesso que durante anos raramente tentei escrever em Português (mas não sei qual a razão). Mas, agora que tentei e sinto algo de diferente, sempre que a vontade a isso me induzir é o que farei.

    By Blogger Egomet, at Saturday, May 28, 2005 11:00:00 PM  

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