Direitos....

“ (…) O mundo tornou-se um direito do homem e tudo se transformou em direito: o desejo de amor em direito ao amor, o desejo de repouso em direito ao repouso, o desejo de amizade em direito à amizade, o desejo de guiar depressa de mais em direito de guiar depressa de mais, o desejo de felicidade em direito à felicidade, o desejo de publicar um livro em direito de publicar um livro, o desejo de se gritar à noite nas ruas em direito de gritar à noite nas ruas. (…)”

Kundera, M. (2001). A Imortalidade. pág. 135. 5ª edição.


Um dos aspectos mais característicos da filosofia de Sócrates é a introspecção, expressa no lema “conhece-te ti mesmo”. Equivocamo-nos, repetidamente, cogitando que é fácil cumprir este lema. A introspecção parece ser mais facilmente atingida quando nos tornamos conscientes da nossa ignorância, porque é isso que nos conduz à sabedoria. Sabermos que somos, de alguma forma, ignorantes torna-nos virtuosos seres em busca do conhecimento, ouvindo a voz interior do génio e a do demónio (todos as transportamos, sendo fundamental saber ouvi-las).

Por vezes, a liberdade destas vozes é peculiarmente austera, crítica e irónica. Estas características são projectadas para o ser, sendo a consequência mais nítida a de descontentamento geral, concretização, racionalização, um estado de ânimo hostil, ou não. Será um estado de ânimo hostil desejável, ou nem por isso? Por vezes as evidências a favor deste estado de ânimo esbatem-se contra nós, sem que nos apercebamos. É ele que nos permite corromper o que é concebido como dado adquirido, e esbatemo-nos muitas vezes contra a parede pessoal que foi construída quase imperceptivelmente. Concebo este estado de ânimo como um juíz intrinsecamente relacionado com a justiça humana. Este juíz ilumina-nos os olhos da alma, permitindo-nos ver não uma solução empírica para a vida terrena, mas sim o juízo eterno da razão. Assim se caminha em direcção à imortalidade.

Egomet