Egomet

June 17, 2005

Próximo do Grito de libertação

Incoerentes palavras, irreflectidas, adocicadas, por vezes, por um modo de agir. Leves palavras, facilmente transportadas pelo vento, pela brisa quente do Verão. Palavras queimadas pelo poderoso e alucinante Sol, mordidas pelos dentes de um vampiro que numa noite, como muitas outras, apareceu e delas tentou sugar o que elas próprias pensavam que não significavam.
Palavras que secam todas as tristezas, todas as desilusões, tudo o que incomoda sem magoar...apenas incómodo, nada mais. O que dói não é o sinal mal colocado, mas o gume da pedra afiada para dissecar tudo o que se rejeita. Sentimento ambíguo de dor e prazer, de desespero e sublimação. Actos a favor desta faca, actos contra esta faca, todos eles são reconfortantes, todos eles permitem o grito de libertação, o grito de um anjo outrora perdido, mas que agora se encontra a cada dia que passa, e que em todos os momentos deseja ir mais além, e confessar tudo à Lua e no seu colo ser embalado pela melodiosa harpa que sobejamente encanta o espiríto de um anjo um dia perdido, mas agora achado. Sem medo, sem dúvidas, sem receio de agir, de confessar desejos e sentimentos....ocultá-los foi durante anos um fortalecimento que permitiu conscientemente perder uma batalha, mas muitas outras se seguem e o anjo não vai perder a guerra porque não deseja ocultá-los. Já está a vencer mais uma batalha por não ocultar sentimentos, e nenhum vampiro conseguirá sugar o seu ânimo...o anjo não o permitirá. Vampiro é apenas um substantivo poderoso, mas no fundo é assim que se comporta o espírito do anjo quando ele está prestes a perder-se. Dentro do anjo existe um vampiro, que se comporta como um fantasma assustador, inibidor, destruidor, não permitindo que o anjo se revele, que o anjo grite e lute pela liberdade. O anjo foi mais forte e destruiu os dentes do vampiro e as forças do fantasma. O anjo quase que grita “Sou livre!”...poucos momentos distanciam o anjo de proferir estas palavras...é verosímil prever este grito como um grito de felicidade extrema, de sublimação poucas vezes experienciada, sentida, desejada. O anjo é quem decide, se deixa viver o vampiro e o fantasma, ou se os aniquila de uma vez para sempre.....o anjo está lentamente a aniquilá-los com a ajuda de outro anjo, com a sua insustentável presença, com as suas adocicadas palavras.
Egomet

June 11, 2005

Grito de libertação....

“Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas e montanhas cinzentas
(...)
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
não posso adiar o coração”

António Ramos Rosa in Viagem através Duma Nebulosa (1960)
Este excerto reflecte um pouco aquilo que sinto, aquilo que tenho vindo a sentir, exceptuando a parte do ódio...porque esse sentimento não existe em mim. Há sentimentos que não se devem adiar, que devem ter toda a liberdade de expressão a que têm direito. Se, um dia, uma das minhas batalhas foi aniquilar a liberdade de expressão desses sentimentos, hoje sem dúvida alguma desisti dessa batalha. Não vou adiar a minha vida, não vou "adiar o coração", mas mesmo assim tenho que ser sincera e assumir que não tem sido fácil desistir de uma batalha que tem sido travada durante anos. Um dia, alguém me disse (ainda que através de outras palavras) que eu estava a construir uma prisão pessoal, uma colossal prisão, que não me permitia "o meu grito de libertação", e eu nunca o quis assumir. Hoje, depois de tantos anos, sei que tinhas razão...só que já não to posso dizer. Bem sei que pode ser apenas uma fantasia, mas quero acreditar que estás aí em cima a tomar conta de nós, que muitas vezes és a voz da minha consciência, e que ficas feliz porque vês que estou feliz, e que estou a lutar pelo "meu grito de libertação".
Recentemente, uma outra pessoa abriu-me os olhos para o facto de eu não tentar viver sem as minhas máscaras, que verdadeiramente me escondem. Obrigada I., nem sabes o quanto me tens aberto os olhos, o espírito. Ainda não consigo viver sem as máscaras, mas aos poucos estou a tentar, e um dia vou conseguir gritar que me sinto livre.
Egomet

June 09, 2005

Misteriosa Catarse

O fundamento de qualquer tragédia seria, segundo Aristóteles, ao suscitar sentimentos de terror e de piedade, o de exercer um efeito de purificação relativamente a estes mesmos sentimentos.

Mas então, este é apenas o objectivo, o fundamento e não o que é, concretamente, a catarse. Qual a essência da catarse, como é percepcionada?

No entanto, esta interpretação da catarse como purificação dos sentimentos de terror e de piedade não é unanimemente aceite por todos os teóricos. Por um lado, há os que advogam o vulgar critério de que os sentimentos em que incide a catarse são os de terror e piedade, despertados pela tragédia. Por outro lado, há teóricos que argumentam que a catarse é exercida não apenas sobre os sentimentos de terror e piedade, mas sobre muitos outros.

Não posso deixar de focar o facto de, qualquer que seja o sentimento sobre o qual a catarse exerce os seus efeitos, a catarse não deve ser concebida como uma expurgação. A razão para tal argumento reside no facto de, para que existisse expurgação, teria obrigatoriamente que ocorrer uma acção, nomeadamente a de eliminar os sentimentos de terror e de piedade.

Desta forma, é mais sensato conceber a catarse como purificação e não como expurgação. Os sentimentos já referidos podem, assim, resultar da função catártica da tragédia.

A analogia que estabeleço entre estes conceitos e a vida do ser humano é demasiado óbvia para mim. Quando algo não corre da forma mais desejada, mais esperada, mais ambicionada, há um sentimento ou amálgama de sentimentos que nos irrompe do ser…tornando-nos, por vezes, irracionais (sentimo-lo como se de uma tragédia se tratasse). No entanto, à medida que o vento, a brisa, a vida que continua em nosso redor, se consolidam, algo muda. Sinto, muitas vezes que a racionalidade insiste em não me abandonar, permitindo-me procurar que a “tragédia” exerça a sua função catártica sobre mim. Por vezes, os sentimentos que são purificados pela catarse deveriam ser procurados, porque a sensação de liberdade depois da purificação é de tal forma transcendental que se torna desejável senti-la pelos menos algumas vezes na vida. De alguma forma já o senti, não com sentimentos de terror e de piedade, mas com outros sentimentos que me esgotaram as energias…não conseguindo lutar contra mim mesma…e isto é o pior que me pode acontecer….A catarse permitiu-me restabelecer energias…tornar-me mais forte…mais confiante…acordou-me para a vida e fez com que eu desejasse ardentemente abraçar a vida.

Terror e piedade…sentimentos inerentes à situação trágica, que consiste, segundo Aristóteles no “homem que não se distingue pela virtude ou pela justiça; se cai no infortúnio, tal não acontece porque seja vil ou malvado, mas por força de algum erro”.

Será que tudo o que não acontece como desejado se deve única e exclusivamente a um erro, a um deslize? Muitas vezes penso que sim, mas há momentos em que acordo dessa realidade preconcebida e interiorizo a minha opinião relativamente a determinados acontecimentos….alguns bons, outros maus…e aí tenho a certeza absoluta de que nada fiz para que ocorressem. Bem sei que todos estes momentos…acontecimentos…são meras metonímias do todo que deveria ser a minha vida, mas mesmo assim sou incapaz de não os sentir como únicos…sobretudo devido aos sentimentos que despertam em mim.


P.S. Em contínuo ou prolongado estado de purificação. Há algumas pessoas que fazem parte deste estado, e tu és uma delas. Percebo por que razão ficaste surpreendido, mas agora já sabes e temos que assumir que o resultado tem sido enriquecedor....
Egomet

June 06, 2005

Walking with my ghosts

Incredible is the way my ghosts walk more than I do....they are all the time walking around, being witnesses of my existence and life. Why I do not abolish them, why I do not erase them from the dimension I live in…
I don’t know, but probably the reason is that sometimes they are so useful, that I believe some of them will never disappear because I don’t want. What am I afraid of? I know something scares me, but I just can’t define it. Sometimes I miss some homeostasis…an association between my body, my spirit and my soul. Sometimes I want to remember, others I want to forget. The other day I realized I wouldn’t mind to get lost for a few moments, in order to have the opportunity to find myself. I desire, a few times, to condensate an infinite number of gestures in one single gesture…I know which is and what it means to me…I just don’t know what does it mean for some people, because others know me quite well to know what am I referring to. One day I will be in a garden, living as free as possible, like sea waves, where attractively the sea kisses my lips, where exciting is the feeling burning inside me, where fresh is the breeze of sea waves, encouraging is the sea strength, enjoyable is the sunset and pleasure is what I feel for admiring the sunset at the beach. Simultaneously I let my thoughts walk through sea waves….chronologically I recall all pleasant moments spent here…omniscient is my sublimation for being here…sympathies I feel with each sea wave, with each grain of sand…thousands of choices, thousands of thoughts fed by sea water…fascinating picture is the sea and the sunset sky, almost as many in one…seeds of my words, waves of my being.
I simply would like to reach an almost complete existence….someday death will come, and I am afraid of it, mainly because I feel I have so many other experiences to live….I deeply want to live them….I will always be incomplete…we all are….but even so, I will try to reach a higher and complete level…at least what is possible to achieve.
I don’t give up…that’s what hope exists for. For the common sense, hope is something positive. A blessing that does not contemplate all human beings equally, but when it is present makes us stronger. According to Nietzsche, hope was a mere illusion, a fantasy that would lead people to be dependent of it...experiencing a bigger frustration state. Hope would have as consequence a long-term pain. I do not agree with these ideas…hope is so good…we get so stupid with it…and this is the best way to learn something….I learn more when I realize how I was stupid in a given situation. Thus, I fight for hope, stupidity, knowledge and learning.


“De todas as virtudes, a esperança é aquela que mais importante é para a vida. Porque sem ela quem se atreveria a começar uma qualquer actividade, a iniciar um qualquer empreendimento? Quem teria a coragem de enfrentar o futuro, obscuro, incerto, imprevisível?”

Alberoni, F. A Esperança.

Egomet